Cacique Kalapalo e Pajé Pope no Sesc SJC 2010
Sobre mim
Eu nasci a dez mil anos atrás e depois reencarnei em Assis, no interior de São Paulo. Terra de incultura agropecuária, coronéis da soja e pouca coisa mais, além de ser rota do narcotráfico. Na verdade me sinto cidadão do mundo e co-responsável pelo planeta Terra.
Nascer ali foi uma sorte. Eu poderia ter nascido mulher em Bangladesh, ter tido o clítoris cortado e pegar cólera no lixão, depois de ser queimada com acido pelo meu próprio marido. Isso sim seria uma vida triste. Não reclamo de nada.
Sobre o Brasil
Morei no patropi por trinta anos. Pais com uma das piores classes políticas que existe no mundo, mas sempre houve luta contra isso desde os tempos da ditadura brasileira.
Passamos da oligarquia dos coronéis do engenho aos engenheiros da corrupção suprapartidária sem intermédios. Com muita miséria e violência pelo meio.
O Brasil é um gigante com pés de barro. Gente bonita mas sem cabeça. Gente com cabeça mas sem dinheiro. Um espelho embaçado da globalização dura e crua, que banaliza tudo inclusive a violência e mantêm as eternas barreiras sociais entre os povos.
Sobre meu papel de agente cultural
Participei na década dos oitenta, de um importante projeto em São José dos Campos e Vale do Paraíba. Um encontro de pessoas inquietas e ativos produtores de arte, num momento de transição entre a ditadura e a democracia no pais. Dali saíram muitas ideias e projetos como a Radio Teatro Aguapé, uma espécie de radio mambembe, que duram até hoje.
Nossa missão foi de dar voz e criar condições para a cidadania se manifestar como autênticos protagonistas de suas próprias vidas e da nossa sociedade. Alem de ser também a utopia feita no dia-a-dia a base de acções multitematicas e performances artísticas.
Sobre a política partidária
Politica para quem precisa de polícia. Não votar é um mecanismo valido.
A política partidária já demonstrou que não soluciona muita coisa pois o poder corrompe.
A participação em movimentos, sindicatos e associações é cada vez mais necessária para a sociedade e as comunidades devem se organizar com a meta de estabelecer uma cultura igualitaria, onde a educação e a escola sejam a base da sociedade.
Quem dita as normas na verdade, não são os políticos e sim as grandes corporações multinacionais, que operam e governam em todo o mundo, modelando a sociedade aos seus interesses.
Sobre a religião
No Vaticano, na Mecca ou em Israel, faltam os verdadeiros ideais de toda religião: o amor e a paz. As religiões, a politica e as multinacionais se aliam não pela democratização do mundo e pela erradicação da pobreza, que causam tanto sofrimento aos povos mas sim para manter seus interesses e suas propriedades.
Sobre a minha cidade São José dos Campos
Um pólo industrial com altos voos e baixos salários. Poucos ricos e muitos pobres, como em todo o mundo, onde governa o neo-liberalismo e a privatização do poder público.
São José dos Campos sempre foi um espelhismo no Brasil, o jardim da burguesia rodeado por um grande anel de ignorância e pobreza, com a beleza natural espoliada pela propriedade privada que tem como maior exemplo, a morte lenta do rio Paraíba do Sul.
Sobre o futuro
Já não temos tempo pra pensar em futuro. O melhor momento é aqui e agora. Os mares vão subir, a água dos rios vai baixar, as epidemias já são assunto do dia-a-dia, os poderosos são cada vez mais poderosos e as pessoas cada dia mais ignorantes e vulneráveis. Deveríamos pensar e fazer no presente se queremos ter um futuro. O passado já sabemos que foi melhor.
Cesar Pope para a Radio Aguape 2010